sábado, 6 de fevereiro de 2016

Por que fazemos sexo?

Sexo, um dos maiores prazeres da humanidade e agora também descobrimos que faz parte do mundo animal, os golfinhos que o digam… Mas saindo do sentido coloquial referente ao ato sexual ou coito, o sexo é uma forma de reprodução que possui evidências de seu surgimento por volta de 3 bilhões de anos de existência. Entretanto, por que ele surgiu ?




Aprendemos por muito tempo em nosso ensino médio que os seres vivos se reproduzem para passarem os genes adiante, de duas maneiras, assexuadamente e sexuadamente. A reprodução assexuada é típica de seres vivos muito simples e cujo resultado são duas células geneticamente idênticas à célula-mãe. No caso da reprodução sexuada, ocorre a mistura de genes, fazendo do filhote uma mistura do pai e da mãe, sendo assim na reprodução assexuada gasta menos energia e tempo, uma vez que não precisa de todos os processos e passos da meiose.










Então, qual a vantagem evolutiva em uma reprodução que demora muito e gasta muito mais energia ?


“Para gerarmos variabilidade genética, é óbvio.”


Este tipo de resposta é a ensinada atualmente nas escolas em nível médio e básico, entretanto ela não é necessariamente a mais correta. Esta argumentação segue a linha de pensamento de Williams & Smith, que afirmaram que o sexo funciona permitindo que os organismos filhos tenham uma maior leque genético para lidar com as mudanças espaço-temporais do ambiente e permitir a melhor propagação da espécie.


Este tipo de lógica admitira que os organismos à colonizarem ambientes mais inóspitos e/ou mesmo variáveis teriam como fonte primária, a reprodução sexuada.

Entretanto, acontece exatamente o contrário, as espécies que vivem em ambientes mais extremos tendem à serem organismos que vivem basicamente se reproduzindo assexuadamente.



Olá, sou uma Archaea, vivo em vulcões e sem transar.




E não apenas isso, outra premissa é o sucesso da espécie pela maior variabilidade genética para a propagação bem sucedida da espécie. Porém, não se observa na natureza os seres vivos se reconhecerem em uma unidade denominada espécie que luta pela sua propagação, e sim os indivíduos, ainda que da mesma espécie, competindo individualmente para a propagação dos seus genes e não da espécie.


Se fosse como os autores propuseram, não deveria existir competição entre machos.


*Ainda que seres vivos sociais e que apresentam comportamento altruísta, existe sim uma questão semelhante por trás, mas isso fica pra outro texto.

Sim, isso é pólen. Mas você sabe o que é pólen ?
Pólen está para a plantas, como o esperma está para os animais...


Dado tudo isso, qual seria a real funcionalidade da reprodução sexuada ?


A co-evolução destas espécies também é um exemplo de sosigonia,
Só que com relações benéficas para ambos.
William D. Hamilton, elaborou até agora a hipótese mais aceita. Ele usou a teoria sosigônica para explicar este fenômeno. Segundo ele, todos os seres vivos possuem diversos tipos de parasitas e eles estão tão dispersos e presentes no ambiente que não existem meios de se escapar fisicamente deles, entretanto, os hospedeiros possuem respostas de origem genéticas para combater o parasitismo. Contudo, pelos parasitas terem o ciclo de vida mais rápido que os hospedeiros, eles evoluem mais rapidamente, o que dá á eles mais tempo de conseguirem burlar essas defesas. 





Com o sexo e a mistura de genes, o parasita tem um novo genótipo com novos sistemas que ele precisa quebrar, por isso este modelo é também chamado de “corrida armamentista parasita-hospedeiro”.




Ainda que a reprodução sexuada seja dispendiosa, pelos processos de meiose, os pais pagam este preço afim de que seus genes sobrevivam em outro organismo, evitando os diversos parasitas.



Os experimentos foram conduzidos com as aves do paraíso, espécies que existem na Austrália e Papua Nova-Guiné.
Pode parecer meio absurdo a idéia de que fazemos sexo e trocas gênicas para evitarmos parasitas, existem trabalhos que corroboram essa hipótese. Como por exemplo os trabalhos com aves de Hamilton & Zuk, 1980, que demostraram que as espécies de aves do paraíso e os respectivos indivíduos das populações que possuíam plumagens mais elaboradas eram as espécies que tinham mais espécies parasitas e ao mesmo tempo não apresentavam nenhum deles no corpo.



Micuim ou ácaro de ave
Um tipo de parasita que acometem esses organismos.
Malophaga ou piolho de ave
Aqui representadas várias espécies que acometem
diversas espécies de aves.


















Então neste carnaval, ajeite sua plumagem e se proteja, cuidado sempre com os parasitas, sejam eles dengue, zika ou AIDS.



Referências:


FONSECA, R. C. Sexo, plumas e parasitas. [Editorial]. Ciência Hoje, v.26, n. 155, p. 26-33, nov., 1999


REINACH, F. O sexo e a origem da morte. In: REINACH, F., (Es). A Longa Marcha dos Grilos Canibais: E outras crônicas sobre a vida no planeta Terra. São Paulo: Companhia das Letras, 26/03/2010. p. 85-88

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