Sexo, um dos maiores prazeres da humanidade e agora também descobrimos que faz parte do mundo animal, os golfinhos que o digam… Mas saindo do sentido coloquial referente ao ato sexual ou coito, o sexo é uma forma de reprodução que possui evidências de seu surgimento por volta de 3 bilhões de anos de existência. Entretanto, por que ele surgiu ?
Aprendemos por muito tempo em nosso ensino médio que os seres vivos se reproduzem para passarem os genes adiante, de duas maneiras, assexuadamente e sexuadamente. A reprodução assexuada é típica de seres vivos muito simples e cujo resultado são duas células geneticamente idênticas à célula-mãe. No caso da reprodução sexuada, ocorre a mistura de genes, fazendo do filhote uma mistura do pai e da mãe, sendo assim na reprodução assexuada gasta menos energia e tempo, uma vez que não precisa de todos os processos e passos da meiose.
Então, qual a vantagem evolutiva em uma reprodução que demora muito e gasta muito mais energia ?
“Para gerarmos variabilidade genética, é óbvio.”
Este tipo de resposta é a ensinada atualmente nas escolas em nível médio e básico, entretanto ela não é necessariamente a mais correta. Esta argumentação segue a linha de pensamento de Williams & Smith, que afirmaram que o sexo funciona permitindo que os organismos filhos tenham uma maior leque genético para lidar com as mudanças espaço-temporais do ambiente e permitir a melhor propagação da espécie.
Este tipo de lógica admitira que os organismos à colonizarem ambientes mais inóspitos e/ou mesmo variáveis teriam como fonte primária, a reprodução sexuada.
Entretanto, acontece exatamente o contrário, as espécies que vivem em ambientes mais extremos tendem à serem organismos que vivem basicamente se reproduzindo assexuadamente.
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Olá, sou uma Archaea, vivo em vulcões e sem transar. |
E não apenas isso, outra premissa é o sucesso da espécie pela maior variabilidade genética para a propagação bem sucedida da espécie. Porém, não se observa na natureza os seres vivos se reconhecerem em uma unidade denominada espécie que luta pela sua propagação, e sim os indivíduos, ainda que da mesma espécie, competindo individualmente para a propagação dos seus genes e não da espécie.
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Se fosse como os autores propuseram, não deveria existir competição entre machos. |
*Ainda que seres vivos sociais e que apresentam comportamento altruísta, existe sim uma questão semelhante por trás, mas isso fica pra outro texto.
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Sim, isso é pólen. Mas você sabe o que é pólen ? Pólen está para a plantas, como o esperma está para os animais... |
Dado tudo isso, qual seria a real funcionalidade da reprodução sexuada ?
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A co-evolução destas espécies também é um exemplo de sosigonia, Só que com relações benéficas para ambos. |
William D. Hamilton, elaborou até agora a hipótese mais aceita. Ele usou a teoria sosigônica para explicar este fenômeno. Segundo ele, todos os seres vivos possuem diversos tipos de parasitas e eles estão tão dispersos e presentes no ambiente que não existem meios de se escapar fisicamente deles, entretanto, os hospedeiros possuem respostas de origem genéticas para combater o parasitismo. Contudo, pelos parasitas terem o ciclo de vida mais rápido que os hospedeiros, eles evoluem mais rapidamente, o que dá á eles mais tempo de conseguirem burlar essas defesas.
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Com o sexo e a mistura de genes, o parasita tem um novo genótipo com novos sistemas que ele precisa quebrar, por isso este modelo é também chamado de “corrida armamentista parasita-hospedeiro”.
Ainda que a reprodução sexuada seja dispendiosa, pelos processos de meiose, os pais pagam este preço afim de que seus genes sobrevivam em outro organismo, evitando os diversos parasitas.
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Os experimentos foram conduzidos com as aves do paraíso, espécies que existem na Austrália e Papua Nova-Guiné. |
Pode parecer meio absurdo a idéia de que fazemos sexo e trocas gênicas para evitarmos parasitas, existem trabalhos que corroboram essa hipótese. Como por exemplo os trabalhos com aves de Hamilton & Zuk, 1980, que demostraram que as espécies de aves do paraíso e os respectivos indivíduos das populações que possuíam plumagens mais elaboradas eram as espécies que tinham mais espécies parasitas e ao mesmo tempo não apresentavam nenhum deles no corpo.
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Micuim ou ácaro de ave Um tipo de parasita que acometem esses organismos. |
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Malophaga ou piolho de ave Aqui representadas várias espécies que acometem diversas espécies de aves. |
Então neste carnaval, ajeite sua plumagem e se proteja, cuidado sempre com os parasitas, sejam eles dengue, zika ou AIDS.
Referências:
FONSECA, R. C. Sexo, plumas e parasitas. [Editorial]. Ciência Hoje, v.26, n. 155, p. 26-33, nov., 1999
REINACH, F. O sexo e a origem da morte. In: REINACH, F., (Es). A Longa Marcha dos Grilos Canibais: E outras crônicas sobre a vida no planeta Terra. São Paulo: Companhia das Letras, 26/03/2010. p. 85-88
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