quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

- Árvores + Graus Celsius

Há algum tempo, vemos diversas notícias e postagens no facebook sobre as ondas de calor que se propagaram em diversas capitais brasileiras, fora a falta de chuva. A atribuição ao súbito aumento de temperatura se dá devido aos fenômenos climáticos como o El Ñino e massas de ar quente estacionárias. Entretanto, para as grandes cidades esse fenômeno é agravado devido à ausência de áreas verdes. Pode parecer pouca coisa, mas as áreas verdes ajudam na regulação do microclima da cidade, reduzindo as ilhas de calor.



As plantas nas áreas verdes, sobretudo as árvores, geram uma camada filtradora de raios solares, permitindo que apenas uma parte chegue à superfície do solo que pode chegar à diferença de 23°C entre a copa e o solo. Além disso, elas  aumentam a umidade do ar pela evapotranspiração, que por sua vez torna o processo de aquecimento e resfriamento do ar mais demorado. De maneira que durante o dia o ar fique mais frio e a noite mais quente, mantendo-se ao londo das 24h em uma média agradável. Porém, em locais onde não existe este tipo de regulação térmica, como no caso de bairros centrais e comerciais, o ar superaquece logo nas primeiras horas da manhã e se resfria proporcionalmente durante as primeiras horas da noite, gerando muito calor durante o dia e bastante frio durante a noite. A diferenças de temperatura entre as massas de ar dentro da cidade, proporcionam a movimentação delas, gerando o vento.

Conforme o crescimento urbano se torna vertiginosamente, sobretudo com a verticalização e criação de novas vias, sejam elas ruas ou avenidas, vem destruindo ou reduzindo as áreas verdes em nossas cidades, tão essenciais à regulação do microclima. Para evitarmos futuros problemas com o crescimento desordenado das cidades, crie plantas em seu apartamento ou mesmo jardins em sua casa. Frequente as áreas verdes e impeça a destruição destas para dar espaço à novos espaços urbanos, você será um dos muitos recompensados por isto.


A imagens e infográficos aqui utilizados foram retirados da página: "Árvore ser tecnológico", deixamos aqui o link do seu tubmlr e queremos parabenizá-los pelo trabalho e inspiração do texto






Glossário:


Verticalização: Fenômeno urbano de crescimento de prédios e apartamentos.


Ilhas de Calor - Processo de grande aquecimento tanto do solo, quanto da atmosfera de determinadas regiões em comparação com o seu entorno, aplicada sobretudo às cidades


Microclima - Regiões com o clima diferente e extremamente restrito, tal como uma área verde dentro da cidade ou mesmo a cidade em relação à uma região climática.


Evapotranspiração - Fenômeno da evaporação da água presente nas plantas por meio da abertura dos seus estômatos (Órgão foliar responsável pela captação de CO² e que ao abrir gera perda de água)




Referências:


SHINZATO, P. Impacto da vegetação nos microclimas urbanos. 2009. 173 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2009.




segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Coleções Biológicas e o constante exercício da bioética


Coleção Entomológica do Museu de Zoologia da USP
As Coleções Biológicas, são maneiras de inventariarmos e organizarmos nossa biodiversidade, sejam elas zoológica, botânica, microbiológica ou fóssil. Utilizando fichas com os dados de coleta e outras informações, temos literalmente, uma biblioteca de espécies que podem nos informar sobre diversos aspectos da biodiversidade, a qual podemos recorrer para obtermos numerosas informações, tal como espécies perdidas com expansão urbana, sobrepesca ou caça excessiva, ou mesmo novas espécies que são recentemente descobertas em diferentes localidades, além de nos fornecerem dados morfológicos, como variações de cor ou formato ao longo do tempo e do espaço e ecológicos como parasitas, desenvolvimento de gônadas e também dieta.

Frente do Museu  Nacional
Logomarca do Museu Paraense Emílio Goeldi
Diversas instituições atualmente comportam essa função, sobretudo os museus, como no caso no Rio Grande do Norte, onde o Museu Câmara Cascudo abriga as coleções paleontológicas e futuramente o Museu de Ciências Morfológicas, que abrigará as coleções de espécies atuais do Departamento de Botânica e Zoologia (DBZ) da UFRN. Mas as instituições que mais se destacam no país são o Museu Nacional, localizado no Rio de Janeiro, o Museu de Zoologia da USP (MZUSP) e também o Museu Paraense Emílio Goeldi, o mais antigo do país.  
Logomarca do Museu Câmara Cascudo













A organização da diversidade biológica nos permite estudá-la muito mais facilmente e inclusive gerar estratégias e fomentar recursos para a sua preservação. As coleções dão abertura para que os pesquisadores e outras pessoas tenham acesso ao  patrimônio biológico de uma ou mais regiões, podendo ele gerar medicamentos e novas tecnologias.

Entretanto, para inventariar esse tipo de diversidade, é necessário o sacrifício de espécies animais, sejam elas insetos, répteis, anfíbios, peixes ou mesmo aves. Tanto que muitos biólogos em campo são indagados ou mesmo criticados quanto à este tipo de prática. Mas infelizmente, para obtermos determinados dados necessitamos da morte de determinados indivíduos. Uma situação recorrente onde o espécime é indispensável para o estudo, é quando este indivíduo coletado é o representante de uma nova espécie, sendo chamado Holótipo. Outro pesquisador tem o direito de contestar a validade da espécie, mas para isso, ele precisa reavaliar os caracteres que usaram para definir o Holótipo como uma nova espécie e para isso ele vai recorrer ao animal tombado em uma coleção.


E não somente por isso, em determinados casos, para a avaliação de dietas, é necessário um número mínimo de estômagos de animais, e por mais que isso pareça monstruoso, precisamos entender do que o animal se alimenta para preservarmos também sua fonte de alimento.





Símbolo da base de dados "Project Noah"
Atualmente, para evitar a coleta indevida e auxiliar em inventários de locais, armadilhas fotográficas e outros meios de ciência colaborativa tem surgido, sobretudo os aplicativos de biodiversidade. O qual você pode tirar foto, catalogar a ocorrência e ainda pedir para outros especialistas identificarem, com o uso destes tipos de aplicativos. Hoje cientistas tem mais facilidade em fazerem expedições ou mesmo em catalogar a ocorrência destes seres, sem necessariamente matá-los e depositá-los em coleções.

Eis dois destes aplicativos:


http://www.mol.org/  - Map of Life







Referências:





sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Resenha: Planeta Mutante




Planeta Mutante é um documentário lançado ao ar no Brasil pelo Animal Planet.

O documentário aborda os aspectos da biogeografia histórica e paleobiogeografia para  a evolução dos diversos grupos animais nos locais de cada episódio. Utilizando-se dos dados fósseis e moleculares, ele vai reconstruindo a árvore da vida da fauna nativa e como essa história se mescla com o passado geológico da região.        
São duas temporadas, abordando locais como os Ghats Ocidentais na Índia, Nova Zelândia, Austrália e até o Cerrado Brasileiro.

Ele é um documentário sucinto, de linguagem fácil e com os diversos recursos, como narração, animações e entrevistas com os especialistas, torna-se bastante agradável ao telespectador.
É um dos poucos documentários que sabem conciliar informação, tempo e recursos visuais, tornando-se leve e ao mesmo tempo bastante informativo, sendo recompensável exibi-lo como material auxiliar para professores do ensino básico e médio nas aulas se evolução e também para os de ensino superior nas aulas de biogeografia.

Obs:  A paleobiogeografia trata da distribuição dos seres vivos extintos, enquanto a biogeografia histórica aborda aspectos da distribuição das espécies ao longo de existência delas.




Atualmente encontrei via torrent somente a primeira temporada com legenda, mas nada impede que ela já tenha saído a segunda. Por favor, se conseguirem, deixem o torrent no comentário.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

(From Page) DesExtinção: Nossa possibilidade de redenção?

Desde a publicação de Jurassic Park em Michael Crichton em 1990, tornou-se popular a ideia de trazer espécies extintas de volta à vida e atualmente estamos cada vez mais próximos de alcançar este sonho, à este processo chamamos Desextinção.
Ela pode ser feita de muitas maneiras, algumas usando híbridos de espécies extintas com as vivas que gerarão filhotes puros da espécie extinta e a partir daí selecionando os casais cria-se uma pequena população.
Livro Jurassic Park, pela Editora Aleph
Ou você pode, em muitos casos raros, ter o genoma completo da espécie que você quer trazer de volta e daí você injeta este genoma numa célula doada da fêmea que irá gestá-la ou incubá-la.
Ainda que pareça um procedimento simples, é extremamente complexo, uma vez que existem grandes chances, em função do tempo decorrido e o tipo de exposição que o corpo sofreu antes de sua conservação, pode levar a uma perda grande se não total do material genético. E após isso, o material que tem grandes chances de estar em frangalhos é codificado para compará-lo com o de um animal vivente e daí fazer a hibridização de materiais para a geração de um indivíduo híbrido. Até o momento do nascimento deste híbrido, tudo pode dar errado, as mudanças genéticas que ele possui enquanto híbrido podem gerar malformações e mortes prematuras.
A genética tem avançado com a clonagem e genômica, inclusive conseguiram criar Dolly, e em 2003 cientistas espanhóis e franceses criaram um bucardo
Bucardo (Capra pyrenaica pyrenaica)
(Capra pyrenaica pyrenaica). Mas ainda assim os nossos conhecimentos tem se provado insuficiente para efetivamente trazer uma espécie extinta, no entanto, possivelmente, em um futuro próximo possamos trazer de volta muitas espécies extintas por nossos caprichos e irresponsabilidades.
Mas ainda que trouxéssemos espécies de volta, tais como o mamute lanoso, o tigre da tasmânia, a foca do caribe e outros, qual a utilidade disto?
Um dos principais pontos levantados pela oposição à Desextinção é que ainda que trouxéssemos estas espécies novamente, não haveria local, hábitat, alimentação para elas.
Isto pode até ser verdade do ponto de vista de animais pleistocênicos, o mundo está passando por um aquecimento global e toda a biosfera atualmente comporta-se de maneira diferente. Mas o que dizer de espécies que foram deliberadamente extintas por nós?
Dodô empalhado no Natural History Museum - NY
Espécies como o Dodô, o Alca Gigante, o Tigre da Tasmânia, as diversas subespécies de tigres e leões, o moa gigante, a vaca marinha de Steller. Todas elas tinham papéis importantes em seus respectivos ecossistemas, muitos deles ainda existem sem eles, mas não são necessariamente os mesmos. Diversos estudos ecológicos têm mostrado, principalmente em ambientes trópico-equatoriais, a necessidade interespecífica para o funcionamento e manutenção dos ecossistemas.
Sementes da Árvore do Dodô
Um exemplo foi a extinção do Dodô (Raphus cucullatus), que era o principal dispersor de sementes da árvore-Dodô (Sideroxylon grandiflorum), que atualmente precisou da reintrodução de perus para reestabelecer sua população, uma vez que ela dependia dos ácidos estomacais do Dodô para quebrar a dormência.
Quanto às espécies extintas ao final da última glaciação há 10.000 anos atrás, há muito que se debater. Ainda que haja um grande esforço de trazer o mamute de volta, a questão é extremamente complexa. Por que trazer um animal que foi extinto naturalmente.

Nas palavras do personagem de Jurassic Park Ian Malcom: “Você não está salvando uma espécie que foi extinta pelo desmatamento ou a criação de uma barragem, os dinossauros tiveram sua chance e a natureza os escolheu para a extinção”

Interação preador-presa entre homem e megafauna
A História da extinção da megafauna pleistocênica é extremamente confusa, com dezenas de dados apontando tanto para extinção por sobrecaça humana, quanto por mudanças climáticas. Esta questão é extremamente delicada, uma vez que inclusive os ambientes atuais não são semelhantes ao da última glaciação. Entretanto existem evidências de que os mamutes e outros seres da megafauna sustentavam seus hábitats, algo como o que vemos na África, onde elefantes, girafas, búfalos e zebras pisoteiam o solo, matando as gramíneas velhas e defecam sobre elas, adubando as savanas, talvez ocorresse o mesmo com os mamutes da era do gelo.
Cena do possível Parque Pleistocênico, se ele vier a funcionar
A Desextinção veio com uma promessa não intencional de trazermos de volta todos aqueles que nós injustamente tiramos do planeta. Mas esta “redenção” ainda é custosa e está ainda muito longe de ser praticada em larga escala, nossa preocupação atual não deve ser a correção dos erros do passado, e sim evitar que estes erros sejam novamente repetidos, afinal, do que adianta trazer a arara azul pequena (Anodorhynchus glaucus) se não existirá mais hábitat para ela voltar.
Espécimes de Anodorhychus glaucus depositados em uma coleção


Referências:
TedxDeExtinction : http://tedxdeextinction.org/ - Série de Palestras com especialistas debatendo sobre desextinção
NatGeo DeExtinction: http://viajeaqui.abril.com.br/…/especies-extintas-podem-vol… – Reportagem da National Geographic
Ice Age Giants : https://www.youtube.com/watch?v=Sh7L5qxgRS8 – Documentário sobre as criaturas, clima e geografia da Era do Gelo
Monsters We Met : https://www.youtube.com/watch?v=WDI6UriVGSI – Documentário da BBC sobre a interação homem-megafauna pelo planeta


Clonando o Tigre da Tasmânia : https://www.youtube.com/watch?v=918jXodv_QA – Documentário da Discovery sobre a possível Desextinção do Tigre da Tasmânia

A Teia da Vida. Reflexões sobre a Evolução por Simbiogênese

Lynn Margulis, Criadora da Teoria da Endossimbiose
Lynn Margulis foi uma bióloga especialista em micro-organismos. Sua principal contribuição à ciência foi a descoberta de que a Mitocôndria e o Cloroplasto foram inicialmente, organismos de vida livre e que posteriormente foram assimilados pelas células eucarióticas. A partir desta descoberta, Lynn supôs que este tipo de relação de assimilação deveria ocorrer mais frequentemente. Em uma entrevistas à Discover Magazine, Lynn argumenta que a seleção natural não era o princípio mais importante a nortear a evolução das espécies e sim a Simbiogênese. Simbiogênse é o processo de formação de novos táxons e espécies, assim como antigas bactérias de vida livre se tornaram Mitocôndrias e Cloroplastos. 

Lynn argumentava que a nossa árvore da vida seria muito mais parecida com uma rede, com diversos eventos de simbiogênese, não somente entre espécies de um mesmo grupo,  mas até entre organismos de “reinos” e “domínios” diferentes. Infelizmente Lynn não viveu o suficiente para testar suas hipóteses, falecendo em 2011.


Elysia chlorotica , a lesma do mar que faz fotossíntese


Ainda que sua opinião sobre a seleção natural seja questionável, a idéia da simbiogênse tem recebido relativa aceitação, dado o aumento de evidências e organismos capazes de realizar este fenômeno, tal como a lesma do mar do gên. Elysia e mais recentemente o Tardígrado. Segundo pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, o diminuto animal póssui até ⅙ ou 17,5% de seus genes oriundo de outros seres, num fenômeno conhecido como transferência lateral de genes, que nada mais é que a passagem de informação genética entre seres que não são progenitores e seus respectivos filhos.



Tardígrados à dir. Microscópio óptico e à esq. Mic.Eletrônico
O artigo publicado no Proceeding of National Academy of Sciences levanta a hipótese destes genes estarem relacionados à notória ultra-resistência destes animais. A pesquisa revelou ainda, que dos 17,5%, 6.000 genes são oriundos de  bactérias, sendo o restante de plantas, outros animais, fungos e até Archaeas*.



Diagrama sobre Terapia Gênica
Entretanto, não são somente animais a executarem esta transferência lateral de genes. Os vírus tem desempenhado um papel crucial na evolução dos seres vivos, em função de sua reprodução, muitos pesquisadores partilham da idéia de que os vírus, ao inserirem seu material gênico nas células infectadas, eles poderiam, assim como Tartígrado, adicionarem genes à elas e desta maneira criarem novas espécies. Ainda que isso pareça estranho, a terapia gênica, já aplicada em alguns casos, trata-se exatamente disso. O pesquisador coloca o gene de reparo dentro de um vírus que por sua vez o insere na célula defeituosa.


Por mais que para que seja amplamente aceita a simbiogênese demande mais estudo, podemos nos fazer a seguinte pergunta: “De quantas transferências será que eu sou feito, quem tanto vive em mim sem que eu saiba ?”


Glossário:

  • Archaeas: Micro-organismos que atualmente vivem em ambiente extremos. Muito semelhantes às bactérias, entretanto sua bioquímica e DNA os fazem mais próximos dos  Eukaryota dos que dos Eubacteria.

Referências:




It's the neo-Darwinists, population geneticists, AIDS researchers, and English-speaking biologists as a whole who have it all wrong.
by Dick Teresi; photography by Bob O'Connor

From the April 2011 issue; published online June 17, 2011 - Eu posso disponibilizar o arquivo para baixar caso os leitores queiram

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Paleontologia e Arqueologia, uma velha confusão

Atualmente muitas pessoas confundem Paleontologia e Arqueologia, isso se confirma e se propaga devido à vários repórteres e jornalistas que não estudam o mínimo para produzirem matéria de boa qualidade. (Exemplo: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/bom-dia-rio-grande/videos/t/edicoes/v/toca-escavada-por-animal-pre-historico-e-aberta-ao-publico-no-sul-do-rs/4663521/ )


Eis um desafio aos leitores, peguem uma reportagem, não precisa ser a que eu postei, ao vivo ou em vídeo e procurem os jornalistas ou repórteres falarem a palavra: Sítio Paleontológico.


Difícil ouvir não ? A palavra que sai é arqueológico. 
Então quais são as diferenças entre Paleontologia e Arqueologia ?


Arqueologia é o estudo da história humana desdes os seus primórdios e outras espécies do gêneros Homo. Os arqueólogos trabalham com os artefatos deixados por estes humanos, sejam lanças, pontas de pedras, ferramentas, cerâmicas, esculturas e por aí vai, afim de reconstruir como viviam, comiam, como era sua cultura em que acreditavam e como se comunicavam.


Por sua vez,


Paleontologia é o estudo dos seres vivos antigos, seres vivos em geral, sejam estes plantas, animais, amebas, fungos e até bactérias. Diferentemente da arqueologia, as evidências que estes seres nos deixaram, muitas vezes vem por parte de fósseis, sejam eles pegadas, ossos ou conchas ou mesmo moléculas derivadas de outras que faziam parte de seres vivos (calma, não estamos falando de DNA e sim de terpenos e outros hidrocarbonetos simples).  


Ambas podem vir à trabalhar juntas quando os sítios podem ter evidências humanas e de fósseis de outros animais, tal como a Serra da Capivara e Lagoa Santa, com restos humanos e os animais que caçavam, além dos entorno possuírem diversos fósseis da megafauna, como Preguiças gigantes e “tigres-dentes-de-sabre”. Ou mesmo quando são fósseis de primatas hominídeos na  África do Sul e Sudão, como no caso de Lucy o Australopithecus afarensis.  Apesar delas poderem trabalhar juntas em diversos casos e também por estudarem o passado, elas apresentam metodologias e geram implicações diferentes no nosso conhecimento, por isso são ciências diferentes e merecem ser tratadas como tal, sem um desígnio de melhor ou pior, apenas diferente.

Em resumo:
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Resenha O Naturalista

Saudações caros leitores, nossa resenha de hoje será sobre o livro: O Naturalista, escrito pelo pesquisador e professor de Harvard Edward Owen Wilson, coautor da Teoria da Biogeografia de Ilhas e pai da Sociobiologia.


O livro é uma autobiografia e portanto, muitos dos indivíduos apresentados, são mostrados sob a ótica do Wilson, de maneira que ele pode ser tendencioso, entretanto, mostra-se extremamente fiel, quando possível, aos personagens e fatos ali acontecidos. Como o livro foi lançado em 1994, a autobiografia só se remete até esta data. Diferentemente de muitas biografias, a história não começa com o nascimento dele ou com a história dos pais dele, seja pela sua memória fragmentada (que ele comenta bastante) ou por vontade própria, começa com ele na praia observando uma água viva (Scyphozoa) e pensando como uma criatura tão gelatinosa poderia ser um animal. Posteriormente no mesmo capítulo ele comenta da sua empreitada em capturar “o monstro marinho”, que na verdade era uma arraia lixa e também como ele perdeu a visão parcial de um olho por conta de um espinho de um peixe que o acertou na face. Segundo o autor, desde o início existia esta vontade de descobrir, entender e sobretudo de se aventurar aonde ninguém jamais pudesse ir. Durante sua jornada, Wilson consegue realizar seus sonhos de ir à locais onde ninguém jamais poderia ir, seja nas florestas de Altitude do México ou nas pontilhadas Ilhas do Pacífico Sul. A narração é extremamente interessante pelo autor refazer seu caminho com o que o impactou e o fez passar de uma criança à procura de uma aventura até o homem que desenvolveu a Sociobiologia e ajudou a produzir a Teoria da Biogeografia de Ilhas.
Durante a narrativa vemos outras diversas figuras que contracenaram ao longo da caminhada de Wilson, como amigos, auxiliares, colegas ou mesmo gênios . Entre eles temos nada mais nada menos que James Watson, biólogo molecular descobridor da estrutura dupla-hélice do DNA e vencedor do prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia pelo mesmo título. Que em pouco tempo se tornou o grande inimigo de Wilson, com o autor se posicionando afim do ramo da biologia evolutiva como elemento vital da biologia contemporânea, enquanto Watson acreditava que essa seria uma biologia pretérita, enquanto a biologia molecular iria continuar a avançar e finalmente se tornar o principal ramo de pesquisa para entender como os seres vivos funcionam.
Neste impasse, o qual leva o nome de “Guerras Moleculares”, Wilson iniciou sua carreira na biologia de populações, que logo seria a base para as ciências ecológicas, dado que durante sua juventude, a ecologia não era vista como uma ciência onde se pudesse avançar muito, dificilmente poderiam ser sugeridos experimentos ou mesmo aplicações matemáticas para o teste e falseabilidade de hipóteses. Entretanto, com o mega-experimento de Wilson e MacArthur sobre como a fauna chega e se estabelece em ilhas e sua relação com o continente, foi um dos primeiros dos experimentos ecológicos e um dos iniciais para a matematização da ecologia e sua formalização como ciência passível de testes e criação de hipóteses. Um dos aspectos mais interessantes do livro é exatamente sua ambientação histórica e de surgimento das teorias e hipóteses que muitos pesquisadores hoje se baseiam, também dando espaço para trabalharmos os cientistas como pessoas, com suas derrotas, vitórias, sentimentos e inclinações políticas.

O livro como autobiografia alcança perfeitamente este papel, entretanto, caso o leitor se interesse estritamente sobre a vida de Wilson, enquanto pesquisador e acadêmico, somente se verá saciado após os 8 primeiros capítulos.


Infelizmente não conseguimos a foto do livro, então temos a foto do autor