quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Resenha O Naturalista

Saudações caros leitores, nossa resenha de hoje será sobre o livro: O Naturalista, escrito pelo pesquisador e professor de Harvard Edward Owen Wilson, coautor da Teoria da Biogeografia de Ilhas e pai da Sociobiologia.


O livro é uma autobiografia e portanto, muitos dos indivíduos apresentados, são mostrados sob a ótica do Wilson, de maneira que ele pode ser tendencioso, entretanto, mostra-se extremamente fiel, quando possível, aos personagens e fatos ali acontecidos. Como o livro foi lançado em 1994, a autobiografia só se remete até esta data. Diferentemente de muitas biografias, a história não começa com o nascimento dele ou com a história dos pais dele, seja pela sua memória fragmentada (que ele comenta bastante) ou por vontade própria, começa com ele na praia observando uma água viva (Scyphozoa) e pensando como uma criatura tão gelatinosa poderia ser um animal. Posteriormente no mesmo capítulo ele comenta da sua empreitada em capturar “o monstro marinho”, que na verdade era uma arraia lixa e também como ele perdeu a visão parcial de um olho por conta de um espinho de um peixe que o acertou na face. Segundo o autor, desde o início existia esta vontade de descobrir, entender e sobretudo de se aventurar aonde ninguém jamais pudesse ir. Durante sua jornada, Wilson consegue realizar seus sonhos de ir à locais onde ninguém jamais poderia ir, seja nas florestas de Altitude do México ou nas pontilhadas Ilhas do Pacífico Sul. A narração é extremamente interessante pelo autor refazer seu caminho com o que o impactou e o fez passar de uma criança à procura de uma aventura até o homem que desenvolveu a Sociobiologia e ajudou a produzir a Teoria da Biogeografia de Ilhas.
Durante a narrativa vemos outras diversas figuras que contracenaram ao longo da caminhada de Wilson, como amigos, auxiliares, colegas ou mesmo gênios . Entre eles temos nada mais nada menos que James Watson, biólogo molecular descobridor da estrutura dupla-hélice do DNA e vencedor do prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia pelo mesmo título. Que em pouco tempo se tornou o grande inimigo de Wilson, com o autor se posicionando afim do ramo da biologia evolutiva como elemento vital da biologia contemporânea, enquanto Watson acreditava que essa seria uma biologia pretérita, enquanto a biologia molecular iria continuar a avançar e finalmente se tornar o principal ramo de pesquisa para entender como os seres vivos funcionam.
Neste impasse, o qual leva o nome de “Guerras Moleculares”, Wilson iniciou sua carreira na biologia de populações, que logo seria a base para as ciências ecológicas, dado que durante sua juventude, a ecologia não era vista como uma ciência onde se pudesse avançar muito, dificilmente poderiam ser sugeridos experimentos ou mesmo aplicações matemáticas para o teste e falseabilidade de hipóteses. Entretanto, com o mega-experimento de Wilson e MacArthur sobre como a fauna chega e se estabelece em ilhas e sua relação com o continente, foi um dos primeiros dos experimentos ecológicos e um dos iniciais para a matematização da ecologia e sua formalização como ciência passível de testes e criação de hipóteses. Um dos aspectos mais interessantes do livro é exatamente sua ambientação histórica e de surgimento das teorias e hipóteses que muitos pesquisadores hoje se baseiam, também dando espaço para trabalharmos os cientistas como pessoas, com suas derrotas, vitórias, sentimentos e inclinações políticas.

O livro como autobiografia alcança perfeitamente este papel, entretanto, caso o leitor se interesse estritamente sobre a vida de Wilson, enquanto pesquisador e acadêmico, somente se verá saciado após os 8 primeiros capítulos.


Infelizmente não conseguimos a foto do livro, então temos a foto do autor


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